


A casa de memórias
Bianca Canada
Costurar imagens como quem tenta lembrar com as mãos aquilo que o tempo não disse com palavras."
Entrar nesta mostra é como atravessar uma casa de dentro para fora. Uma casa feita de reminiscências — algumas inteiras, outras costuradas com retalhos e silêncios. "Memórias Poéticas de Bianca Canada" é uma travessia sensível pelos instantes que moldam uma linhagem. Aqui, as fotografias não estão apenas expostas: vestem manequins, repousam em malas, dançam em balanças, misturam-se ao café e à louça, derretem no tempo como o relógio no chá da Alice de Carroll. Cada canto, cada fresta desta instalação é um lugar de lembrar e ser lembrado.
O casaco da memória veste o corpo, mas também a história de quem o toca. Na cadeira de balanço, senta quem quiser. Em cada silêncio, um propósito que instiga o coração. Aqui, o invisível ganha forma. A vida se faz presente na existência do hoje e de quem já foi, na memória de todos e de cada um — continuamente…
Há uma voz. Uma narração suave percorre o espaço, como uma avó que conta histórias à beira do sono. A voz costura o percurso, guia quem escuta, aconchega os sentimentos e nos oferece um convite: traga sua foto, sua lembrança, seu gesto. Essa casa segue além da arte fotográfica: continua em poesia do gesto quando o visitante volta, trazendo seu próprio pedaço de tempo para compartilhar seus afetos.
A exposição se transforma em uma arte viva — feita de muitas vidas, muitos nomes, muitos retornos. Onde a memória é uma roupa usada como um carinho. E toda lembrança é um convite para o chá.
Caraguatatuba, primavera 2025
Claudia Lopes
Curadora e produtora cultural































