



Edna Lins (1937-2022) nasceu em Correntes (PE), mas escolheu Caraguatatuba para viver seus dias mais significativos. Uniu suas raízes nordestinas à efervescência criativa de São Paulo, onde atuou como designer têxtil. Pintora, muralista, professora e mentora, sua produção dialogou, até o fim, com as urgências humanas e sociais.
Como professora de História da Arte e mentora nas Oficinas Culturais da Fundacc, Edna não se limitou a ensinar técnicas: desafiava o invisível, estimulando um olhar além do óbvio. Seu legado ressoa agora no Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba (MACC), onde brilhou em sua última exposição em vida (2022) e para onde sua obra retorna, desta vez, como homenagem em sua memória. Seu mural “O Caiçara” (2016), na Biblioteca Municipal, testemunha essa missão: tradição reinventada com mãos de vanguarda.
As 15 telas desta mostra revelam um recorte íntimo de sua trajetória pictórica. Nelas, a geometria cubista — paixão declarada da artista — entrelaça-se a linhas expressionistas vigorosas e pinceladas gestuais, criando composições que desmontam e reconstroem realidades. Edna não se prendeu a um único estilo: fragmentos de corpos e objetos coexistem em planos simultâneos, enquanto tons terrosos, negros profundos e fissuras sutis de luz exploram temas como identidade, memória e resistência. Mais do que exercícios estéticos, essas telas são manifestos viscerais — convites a um diálogo entre formas e consciência.
"Tributo à Edna Lins" não é uma retrospectiva. É um mapa da mente de quem via na geometria um alfabeto para decifrar o caos e a beleza de existir. Em cada traço — ora preciso, ora selvagem —, Edna transformou tela em resistência, aula em semente. E nos deixou um legado, reafirmando que a arte persiste, mesmo quando o artista se torna eternidade.