
CALEIDOSCÓPIO DE UM UNIVERSO
FEMININO
Na sua exposição inaugural Ana Pinheiro constrói
uma narrativa de sua vida, desafios, traumas e
aprendizados, através de um sagrado feminino
que não abandona a noção de polos
complementares masculino e feminino. Em sua
concepção, ambos se completam, não apenas na
relação com o outro, mas dentro de cada uma e
um de nós. O autoconhecimento de como
mantê-los em equilíbrio seria uma forma de
construirmos para nós uma vida mais plena.
Em suas obras tudo deve ser visto mais de uma
vez. Uma forma se revela outra, se sobrepõe,
entrelaça, constrói novos sentidos. As figuras
femininas, despidas de suas roupas, ganham
asas, se transmutam em borboletas, homens,
pássaros e flores. Narram uma história interior
de transformação, liberdade e gratidão, que
explode na tela em formas e cores.
Tal como bell hooks - autora feminista negra
estadunidense - escrevia seu nome em letras
minúsculas, Ana é generosa com o significado de
sua obra, não assinando a frente de seus
quadros: "Questão de humildade". A obra, assim,
pode ser apropriada por quem a desfruta,
diluindo o ego, acentuando a potência do
encontro e borrando a fronteira entre quem a fez
e quem a vê.
Sara Sousa